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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Incêndios florestais no Ceará ameaçam animais silvestres na Caatinga

Nesta semana, o Ceará atingiu a marca de mil queimadas registradas em 2019. Os danos são incontáveis. Além de castigar a mata nativa, o fogo põe em risco a existência de diversos animais. Muitos morrem e outros ficam sem alimento.


Muitos animais que vivem em áreas atingidas por incêndios não conseguem sobreviver. Os que sobrevivem têm que sair do seu habitat em busca de água e alimento. FOTO: ANTONIO RODRIGUES

Terça-feira passada, dia 8 de outubro. A data marcou o pico no número de queimadas no Ceará. Em apenas 24 horas, foram 66 focos de incêndios registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Apesar de alarmante, o indicador sozinho não consegue mensurar os impactos resultantes das queimadas, sobretudo em áreas verdes onde habitam diversas espécies de animais. O fogo debelado não representa, necessariamente, o fim dos estragos causados pelos incêndios. Flora destruída, fauna ameaçada.
O chefe da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama no Ceará, Muller Holanda, explica que, em meio a um incêndio florestal, os animais têm pouquíssimas chances. Eles podem tentar se deslocar mas, nessa corrida pela sobrevivência, muitos acabam morrendo, seja pelas chamas, pelo calor ou por inalação de fumaça. Os que conseguem fugir do perímetro das queimadas iniciam uma nova batalha: a busca por alimento e água.
"A fauna é impactada diretamente pela perda do habitat e alimentação e por isso tende a migrar em busca de novos locais de sobrevivência", pontua Holanda.
Na Serra do Graiado, zona rural de Várzea Alegre, na região do Cariri, quase cinquenta macacos escaparam do incêndio que consumiu 500 hectares da vegetação.
Os animais estão sendo alimentados com auxílio de moradores da localidade. "Todo dia estou indo levar água, caju, banana e mamão para eles", relata o comerciante Edval Soares. Ainda segundo Edval, "os que escaparam do incêndio estão morrendo de fome". Ele teme que outras espécies também estejam sofrendo as consequências do incêndio florestal.
Perigos
Muller Holanda justifica a percepção do comerciante explicando que "alguns animais percebem o fogo com mais facilidade pelo olfato, e acabam escapando para outras regiões. Contudo, as chamas podem causar a morte de animais de mobilidade mais limitada, além de comprometer a saúde dos mesmos pela inalação de fumaça. É o caso de tamanduás e filhotes de espécies diversas".
Nos oito primeiros dias de outubro, o Inpe já registrou 190 focos incêndios, índice mais de três vezes superior ao anotado em igual período do ano passado, quando foram contabilizados 59 focos.
Com o quantitativo desta semana, o Ceará ultrapassou a marca de mil focos ativos de queimadas em 2019. No mês passado, os números também foram robustos. Em 30 dias, o Instituto registrou 460 focos de incêndios, frente aos 429 verificados em setembro de 2018. A tendência é de que o número de focos cresça ainda mais nos próximos meses.
Segundo o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) Raul Fritz, as condições secas de solo e de vegetação, as baixas umidades relativas do ar, além das temperaturas altas e ventos frequentemente mais intensos colaboram para o avanço das queimadas nesta época.
"Neste período, é comum que tais focos tomem proporções ainda maiores e evoluam para incêndio. Tempo mais seco e ventos fortes, associados à comum falta de chuvas no segundo semestre são condições propícias para o fogo se espalhar", observa o pesquisador.

Fonte: Diário do Nordeste 

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