Imagem: Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo |
A TV Globo teve acesso ao depoimento que o médium João de Deus prestou
ainda neste domingo (16) à polícia de Goiás. Ele negou todas as
acusações de abuso sexual.
João de Deus está preso há quase 30 horas. O médium foi levado para o
complexo prisional em Aparecida de Goiânia, região metropolitana, onde
chegou por volta das 23h.
Ficou numa cela do núcleo de custódia, um presídio de segurança máxima.
João de Deus vai ter direito a banho de sol, mas só poderá receber
visitas depois de 30 dias. Ele dormiu em uma cela de 16 metros quadrados
com outros três presos, que são advogados. A cela, que costuma ser
destinada a políticos, tem camas individuais, uma pia, um chuveiro e um
vaso sanitário. Ela não tem grades e é isolada por paredes e uma porta.
“O que eu espero mesmo é que nós possamos colocá-lo no lugar que ele
deveria estar. Na pior das hipóteses, num regime de prisão domiciliar,
sem poder sair de casa, com tornozeleira. Não ofereceria risco à
sociedade. E também, nessas condições, minimizariam-se os efeitos ruins e
deletérios do cárcere. Essa é a nossa posição e nós vamos levar isso
habeas corpus para o Tribunal de Justiça”, diz o advogado de João de
Deus, Alberto Zacarias Toron.
Antes de ir para a penitenciária, João de Deus passou por exame de
corpo de delito e prestou depoimento por três horas na Delegacia de
Investigações Criminais. A TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás,
teve acesso com exclusividade ao conteúdo do documento.
João de Deus afirma que ganha R$ 60 mil por mês, renda que vem de um
laboratório farmacêutico que funciona na casa Dom Inácio de Loyola, e
também das sete fazendas que possui no estado de Goiás. O médium não
soube precisar a quantidade de veículos e nem de casas que possui porque
diz que algumas já foram doadas aos filhos.
Ele também foi perguntado sobre a suposta movimentação de R$ 35 milhões
na conta bancária. João de Deus respondeu que desconhece a
movimentação, pois apenas pagou alguns funcionários com cheques
nominais. E disse "não tem esse negócio de milhões". Nega ainda ter
feito qualquer outra movimentação do valor mencionado.
Depois de questionado sobre o patrimônio que tem, João de Deus
respondeu sobre os atendimentos na casa Dom Inácio, em Abadiânia.
Informou ter sim uma sala de atendimento individualizado. Disse que ela
tem uma porta transparente, com um sofá, um local para refeição e também
um banheiro.
João de Deus disse que ele não tranca a porta da sala, mas que muitas
vezes a pessoa atendida tranca. Ele alegou que o cômodo tem duas janelas
e outras pessoas conseguem ver o interior da sala.
Os policiais perguntaram qual o critério que ele usa para escolher quem
passará pelo atendimento individualizado. O médium disse que são os
próprios frequentadores que solicitam o atendimento individualizado. Ele
negou que tenha chamado qualquer pessoa para esse atendimento.
Os investigadores perguntaram também para João de Deus sobre uma
denúncia de abuso sexual, que é considerada a mais recente e teria
ocorrido em outubro. Em depoimento, uma vítima diz que foi à casa em
Abadiânia com o namorado. Ela falou que João de Deus ofereceu
atendimento individualizado. Ele apagou a luz da sala e colocou a mão
nas partes íntimas dela. Depois, a vítima percebeu que o médium estava
com o pênis de fora. Depois do atendimento, ele teria oferecido a ela um
quadro.
João de Deus confirmou que ofereceu alguns quadros após o atendimento,
mas negou que tenha abusado sexualmente da vítima. Disse que a vítima
tem nível superior, sabe o que está alegando e deve provar o que está
dizendo. João de Deus disse ainda que o namorado da vítima, que a
acompanhou, é considerado uma ótima pessoa, mas apresenta algum problema
de ordem mental.
João de Deus negou que tenha cometido abuso sexual de crianças e
adolescentes na Casa Dom Inácio. O médium disse que, antes das denúncias
virem à tona no programa Conversa com Bial, ele recebeu uma ligação
telefônica. Um homem dizia que tinha 50 pessoas para acabar com a vida
dele; que se o médium colocasse 100, ele colocaria 200. João de Deus
disse que foi ameaçado: “Eu vou acabar com você".
As denúncias contra João de Deus não param de aumentar. Só o Ministério
Público de Goiás, recebeu mais de 500. Trinta vítimas já prestaram
depoimentos formais.
Nesta segunda-feira (17), em uma reunião entre a Polícia Civil e
promotores, foram acertados detalhes de como será conduzida a
investigação de agora em diante. "A situação que motivou a decretação da
prisão preventiva, essa investigação será concluída ainda esta semana. E
os outros casos irão avançando e com certeza também serão objetos de
novos pedidos de prisão", afirma André Fernandes, delegado-geral da
Polícia Civil de Goiás.
Já foram identificados pelo menos três tipos de crimes a partir do
relato das vítimas. "Há notícia de lavagem de dinheiro, há notícia de
que há envolvimento de outros funcionários e há também, como o crime de
abuso sexual, de estupro, de violação sexual, também serão
investigados", diz o promotor de justiça Luciano Miranda.
De acordo com a polícia, além dos casos de violência sexual, serão
apurados também possíveis crimes financeiros, já que houve uma
movimentação de R$ 35 milhões na conta bancária de João de Deus.
Oficialmente, até agora, 15 mulheres prestaram depoimentos nas Polícias
Civis de Goiás contra o médium João de Deus. Mas só um caso é
considerado recente o suficiente para virar um inquérito.
Até setembro deste ano, uma lei previa um prazo de até seis meses para
as vítimas de abusos sexuais prestarem queixa. Depois disso, o registro
não tinha mais validade. Por isso, o caso mencionado no depoimento,
deste domingo, de João de Deus, de outubro deste ano, é considerado como
principal.
Fonte: G1/Jornal Nacional
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