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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Preso, João de Deus depõe, nega acusações e diz que foi ameaçado

Imagem: Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo
A TV Globo teve acesso ao depoimento que o médium João de Deus prestou ainda neste domingo (16) à polícia de Goiás. Ele negou todas as acusações de abuso sexual. 

João de Deus está preso há quase 30 horas. O médium foi levado para o complexo prisional em Aparecida de Goiânia, região metropolitana, onde chegou por volta das 23h. 

Ficou numa cela do núcleo de custódia, um presídio de segurança máxima. João de Deus vai ter direito a banho de sol, mas só poderá receber visitas depois de 30 dias. Ele dormiu em uma cela de 16 metros quadrados com outros três presos, que são advogados. A cela, que costuma ser destinada a políticos, tem camas individuais, uma pia, um chuveiro e um vaso sanitário. Ela não tem grades e é isolada por paredes e uma porta. 

“O que eu espero mesmo é que nós possamos colocá-lo no lugar que ele deveria estar. Na pior das hipóteses, num regime de prisão domiciliar, sem poder sair de casa, com tornozeleira. Não ofereceria risco à sociedade. E também, nessas condições, minimizariam-se os efeitos ruins e deletérios do cárcere. Essa é a nossa posição e nós vamos levar isso habeas corpus para o Tribunal de Justiça”, diz o advogado de João de Deus, Alberto Zacarias Toron. 

Antes de ir para a penitenciária, João de Deus passou por exame de corpo de delito e prestou depoimento por três horas na Delegacia de Investigações Criminais. A TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, teve acesso com exclusividade ao conteúdo do documento. 

João de Deus afirma que ganha R$ 60 mil por mês, renda que vem de um laboratório farmacêutico que funciona na casa Dom Inácio de Loyola, e também das sete fazendas que possui no estado de Goiás. O médium não soube precisar a quantidade de veículos e nem de casas que possui porque diz que algumas já foram doadas aos filhos. 

Ele também foi perguntado sobre a suposta movimentação de R$ 35 milhões na conta bancária. João de Deus respondeu que desconhece a movimentação, pois apenas pagou alguns funcionários com cheques nominais. E disse "não tem esse negócio de milhões". Nega ainda ter feito qualquer outra movimentação do valor mencionado. 

Depois de questionado sobre o patrimônio que tem, João de Deus respondeu sobre os atendimentos na casa Dom Inácio, em Abadiânia. Informou ter sim uma sala de atendimento individualizado. Disse que ela tem uma porta transparente, com um sofá, um local para refeição e também um banheiro. 

João de Deus disse que ele não tranca a porta da sala, mas que muitas vezes a pessoa atendida tranca. Ele alegou que o cômodo tem duas janelas e outras pessoas conseguem ver o interior da sala.
Os policiais perguntaram qual o critério que ele usa para escolher quem passará pelo atendimento individualizado. O médium disse que são os próprios frequentadores que solicitam o atendimento individualizado. Ele negou que tenha chamado qualquer pessoa para esse atendimento. 

Os investigadores perguntaram também para João de Deus sobre uma denúncia de abuso sexual, que é considerada a mais recente e teria ocorrido em outubro. Em depoimento, uma vítima diz que foi à casa em Abadiânia com o namorado. Ela falou que João de Deus ofereceu atendimento individualizado. Ele apagou a luz da sala e colocou a mão nas partes íntimas dela. Depois, a vítima percebeu que o médium estava com o pênis de fora. Depois do atendimento, ele teria oferecido a ela um quadro. 

João de Deus confirmou que ofereceu alguns quadros após o atendimento, mas negou que tenha abusado sexualmente da vítima. Disse que a vítima tem nível superior, sabe o que está alegando e deve provar o que está dizendo. João de Deus disse ainda que o namorado da vítima, que a acompanhou, é considerado uma ótima pessoa, mas apresenta algum problema de ordem mental. 

João de Deus negou que tenha cometido abuso sexual de crianças e adolescentes na Casa Dom Inácio. O médium disse que, antes das denúncias virem à tona no programa Conversa com Bial, ele recebeu uma ligação telefônica. Um homem dizia que tinha 50 pessoas para acabar com a vida dele; que se o médium colocasse 100, ele colocaria 200. João de Deus disse que foi ameaçado: “Eu vou acabar com você". 

As denúncias contra João de Deus não param de aumentar. Só o Ministério Público de Goiás, recebeu mais de 500. Trinta vítimas já prestaram depoimentos formais. 

Nesta segunda-feira (17), em uma reunião entre a Polícia Civil e promotores, foram acertados detalhes de como será conduzida a investigação de agora em diante. "A situação que motivou a decretação da prisão preventiva, essa investigação será concluída ainda esta semana. E os outros casos irão avançando e com certeza também serão objetos de novos pedidos de prisão", afirma André Fernandes, delegado-geral da Polícia Civil de Goiás. 

Já foram identificados pelo menos três tipos de crimes a partir do relato das vítimas. "Há notícia de lavagem de dinheiro, há notícia de que há envolvimento de outros funcionários e há também, como o crime de abuso sexual, de estupro, de violação sexual, também serão investigados", diz o promotor de justiça Luciano Miranda. 
 
De acordo com a polícia, além dos casos de violência sexual, serão apurados também possíveis crimes financeiros, já que houve uma movimentação de R$ 35 milhões na conta bancária de João de Deus. 
 
Oficialmente, até agora, 15 mulheres prestaram depoimentos nas Polícias Civis de Goiás contra o médium João de Deus. Mas só um caso é considerado recente o suficiente para virar um inquérito.

Até setembro deste ano, uma lei previa um prazo de até seis meses para as vítimas de abusos sexuais prestarem queixa. Depois disso, o registro não tinha mais validade. Por isso, o caso mencionado no depoimento, deste domingo, de João de Deus, de outubro deste ano, é considerado como principal.



Fonte: G1/Jornal Nacional

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