Silva e Doria: “limpo” demais, segundo a teoria da conspiração (Foto: Fabio Arantes) |
Cearense de Mucambo, no interior do estado, o ex-faxineiro Gerson Araújo da Silva, de 41 anos, ocupa um trecho de calçada na altura do número 100 da Líbero Badaró, no centro, há pouco mais de quatro anos. Usa dois cobertores como colchão e um terceiro para não sentir frio à noite. Divide o espaço com outros três moradores de rua.
Várias vezes ao dia, entra no prédio da Secretaria de Direitos Humanos, ao lado, para tomar água. No almoço, compra marmitas em um bar em frente e divide com os colegas. Quando não tem dinheiro, ganha o que sobra de comida nos estabelecimentos da região.
Em sua mochila cor-de-rosa (é uma mala escolar de menina), guarda quatro mudas de roupa. No fim da tarde, costuma ir até a Avenida 23 de Maio para tomar banho em uma bica de água gelada, com sabonete.
O ex-faxineiro Gerson Araújo da Silva, de 41 anos (Foto: Alexandre Battibugli) |
No último dia 10, em uma caminhada pela área, João Doria parou para conversar com Silva e lhe prometeu dar roupas e pagar por um corte de cabelo e um almoço. O prefeito quer ajudar pessoas em situação parecida investindo na melhoria dos centros de acolhida, com a distribuição de kits de higiene.
A foto do encontro foi publicada em vários veículos de comunicação e também na página do tucano no Facebook. Em menos de uma semana, o post acumulava quase 200 000 curtidas e 40 000 compartilhamentos.
Alguns sites levantaram a suspeita de que tudo seria uma armação. Segundo páginas como Conexão Jornalismo, Esquerda Caviar e Dilma Mais que Bolada, o mendigo poderia ser um ator contratado pela prefeitura. Chegaram a marcar a imagem com várias setas, indicando “evidências” do truque, como em um jogo dos sete erros.
As unhas, a pele do rosto e o cabelo estariam limpos demais. Os chinelos e os cobertores pareciam novos. Até uma garrafa de 51 na calçada foi apontada como “prova”. Seria cara demais para ser consumida por gente naquela situação. Indignado com as insinuações, um médico que acompanha o caso de Silva resolveu se manifestar nas redes sociais.
“Não defendo o Doria porque não o conheço. Mas quero informar: ele (Silva) é, sim, morador de rua e eu cuido dele”, publicou o psiquiatra Marcelo de Oliveira Arantes.
Sem-teto no centro: doações de kits de higiene (Foto: Amanda Perobelli/Estadão Conteúdo) |
O mendigo ficou sabendo da polêmica por lojistas vizinhos, que lhe
mostraram as notícias. “É um absurdo me chamarem de mentiroso”, disse
ele a VEJA SÃO PAULO. “Não recebi nada, além de promessas”, completou.
Silva sofre de sérios distúrbios mentais.
Foi diagnosticado com esquizofrenia, epilepsia e depressão. Ingere 21 remédios controlados por dia, dez pela manhã e onze à tarde. Pega os comprimidos gratuitamente na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Glicério duas vezes por semana. Ali conheceu o doutor Arantes, que o vê uma vez por mês no consultório. “Devo muito a ele”, admite o morador de rua.
Devido aos seus problemas, recebe mensalmente 880 reais de benefício pela Lei Orgânica da Assistência Social. O dinheiro é usado para comprar comida, roupas, “ajudar os amigos que passam por ali” e consumir bebidas alcoólicas. “Não há outro lugar para mim que não seja a rua”, diz.
Sua irmã, a dona de casa Jocilene Araújo Silva, de 39 anos, rebate essa
afirmação. “Ele pode vir à nossa casa quando quiser, sabe disso. Mas não
podemos forçá-lo a fazer o que não tem vontade”, lamenta.
Antes de viver nas ruas, Silva, que é analfabeto, trabalhava como faxineiro em condomínios de escritórios, shoppings e em uma padaria da Zona Sul. Acabou sendo demitido por causa da bebida. Seu casamento de cinco anos também terminou em decorrência do vício. Tem dois filhos, Mateus Silva, de 20 anos, e Letícia, de 15.
Ele os vê esporadicamente, quando visita a residência de uma das irmãs, em Santo Amaro. “Mateus trabalha como repositor de supermercado e vai ser pai no mês que vem. A Letícia só estuda, mas colocou piercing em tudo quanto é lugar do corpo, o que me deixou bem chateado”, conta. “Quero ver se mantenho a depressão sob controle para poder conhecer meu netinho.”
Até a tarde da última quinta, 19, os sites que divulgaram a teoria da conspiração não haviam tirado do ar as “notícias” do mendigo fake.
Foi diagnosticado com esquizofrenia, epilepsia e depressão. Ingere 21 remédios controlados por dia, dez pela manhã e onze à tarde. Pega os comprimidos gratuitamente na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Glicério duas vezes por semana. Ali conheceu o doutor Arantes, que o vê uma vez por mês no consultório. “Devo muito a ele”, admite o morador de rua.
Devido aos seus problemas, recebe mensalmente 880 reais de benefício pela Lei Orgânica da Assistência Social. O dinheiro é usado para comprar comida, roupas, “ajudar os amigos que passam por ali” e consumir bebidas alcoólicas. “Não há outro lugar para mim que não seja a rua”, diz.
Antes de viver nas ruas, Silva, que é analfabeto, trabalhava como faxineiro em condomínios de escritórios, shoppings e em uma padaria da Zona Sul. Acabou sendo demitido por causa da bebida. Seu casamento de cinco anos também terminou em decorrência do vício. Tem dois filhos, Mateus Silva, de 20 anos, e Letícia, de 15.
Ele os vê esporadicamente, quando visita a residência de uma das irmãs, em Santo Amaro. “Mateus trabalha como repositor de supermercado e vai ser pai no mês que vem. A Letícia só estuda, mas colocou piercing em tudo quanto é lugar do corpo, o que me deixou bem chateado”, conta. “Quero ver se mantenho a depressão sob controle para poder conhecer meu netinho.”
Até a tarde da última quinta, 19, os sites que divulgaram a teoria da conspiração não haviam tirado do ar as “notícias” do mendigo fake.
Fonte: Veja São Paulo
Via: Mucambo em Questão
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